
No começo da semana a Game Freak atualizou seu site, onde algumas informações relacionadas a parcerias principais foram retiradas – com destaque para a Creatures Inc. e o braço de produções da Shogakukan, a ShoPro. E, claro, isso foi o bastante para reacender o fogo daqueles que ainda estão dodóis com o corte de Pokémon e vão dormir todas as noites dizendo que a Game Freak é uma empresa preguiçosa.
Somado à imagem desgastada da Game Freak nos últimos meses, sites e fãs se sentiram no grande dever jornalístico de repercutir uma possível decisão tomada por empresas extremamente tradicionais – que não revelam informações de estratégias e pormenores à imprensa/público -, que poderia dar margem à má compreensão graças a atual imagem da marca e da falta de interesse em leitura e interpretação por parte do grande público.
Será que dar grande destaque à isso não seria um jeito de capitalizar em cima das tais grandes polêmicas que essa mesma galerinha fala, aproveitando a onda negativa e “chutando cachorro morto”? Nah, que isso, imagina.
Então venho aqui tentar informar os que estão disseminando desinformação. A Creatures Inc., de fato, não é uma parceiroca da Game Freak, por que ela é uma das donas da marca que compõem a The Pokémon Company. Se você se atentar aos registros de marcas e qualquer área de copyright relacionado à Pokémon, sempre constam lá as 3 empresas – Nintendo/Creatures Inc./GAME FREAK Inc.

De fato alguns podem não saber, mas a Creatures foi fundada em cima de uma empresa chamada Ape Inc., responsável por criar a série Mother/Earthbound. Com o fechamento da Ape (que foi fundada com a ajuda do presidente da Nintendo na época), Ishihara (atual CEO da TPC) fundou a Creatures ao lado de Satoru Iwata – ainda presidente da HAL Laboratory, outra empresa que era coladinha com a Nintendo. Atualmente o presidente da Creatures também é um ex-membro da Nintendo (Hirokazu Tanaka, compositor e sound designer lá, que ajudou na programação do hardware de audio do Famicom e Game Boy).
No fundo, no fundo, quando você para pra olhar as coisas, é meio que tudo a mesma galera, mesmo que legalmente seja tudo separado.
Olhando o histórico de produção da Creatures, desde 2008 eles só trabalham com Pokémon, e o que vinha antes de fora era muito esporádico. A esmagadora maioria se resume a Spin-offs, o TCG, auxílio em desenvolvimento a alguns jogos Nintendo que envolvem Pokémon (ex. Smash Bros) e, no caso de X/Y e Sword/Shield, também auxiliando na modelagem de Pokémon para esses dois pares das main series.
“Então é isso, as reclamações e o barulho que fizemos surtiu resultado”.

Bom, as reclamações podem até ter surtido efeito, realmente, mas falo com certa garantia que a retirada das informações no site da Game Freak não é uma consequência disso. A Creatures Inc. existe para cuidar daqueles outros braços da franquia – spin/offs, TCG, auxilio em desenvolvimento, etc. Atualmente ela não é uma empresa stand-alone (ou com muita independência), como a Nintendo e a Game Freak são.
Parando para usar a massa cinzenta, se fosse uma treta interna por conta de Sword/Shield, por que a Game Freak retiraria também a ShoPro? Ou será que eles tretaram com todo mundo? Faz um certo sentido elas não serem consideradas empresas “principais parceiras de negócio”, no sentido que a sua colaboração não implica diretamente na subsistência da empresa. Diferente da Nintendo e da The Pokémon Company, como instituição, que lidam com todo o aparato externo ao desenvolvimento dos jogos em si e, sem o suporte delas, a Game Freak estaria de mãos atadas no limbo.
Será que talvez, só talvez, essa mudança pode ter rolado porque a Game Freak é uma desenvolvedora de jogos que, no papel, não gerencia a marca Pokémon, licenciamentos, etc. e que teeeeeeeeeecnicamente faria mais sentido que a sessão de principais parcerias refletisse isso? Nah, que isso, imagina.

O papo que a Creatures poderia ser comprada pela Nintendo até faz um pouco mais de sentido, porém do ponto de vista corporativo isso não tem tanta lógica também. Seria puxar para dentro da Nintendo mais lucro através da marca, mas também é puxar boa parte da responsabilidade de produzir coisas só de Pokémon, que se for colocar na ponta do lápis às vezes não compensa, sendo que uma empresa nasceu da outra e tem já muita sinergia entre elas. Em teoria, não se mexe em time que está ganhando. E mesmo que fosse esse o caso, na prática, pro consumidor não mudaria muita coisa. Isso de tretar e remover parcerias tem mais cara de alguém birrento dando block na internet do que uma prática empresarial.
Então, antes de sair batendo palma pra maluco deduzindo que rolou uma briga interna, que eles tão se mexendo por que a fanbase fez barulho ou sei lá o que, é sempre bom dar uma lida, pesquisar e entender a situação antes de sair compartilhando qualquer coisa que confirme o que você acha. Tudo o que sabemos sobre como funciona a franquia indica que essa mudança só serviu como provável reflexo de uma prática atual dessas empresas – e que, a cada dia que passa, a fanbase cai em delírios coletivos gerados por ela mesma.
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