A análise a seguir não contém spoilers. O texto contém apenas informações técnicas do jogo, sem revelações de enredo ou detalhes que possam estragar a experiência do usuário. Para uma análise aprofundada sobre estes detalhes, lançaremos em breve um podcast sobre o assunto.


Pokémon: Let’s Go, Pikachu! e Pokémon: Let’s Go, Eevee! definitivamente pegaram todos os fãs de surpresa em seu anúncio. Lá atrás, ainda em maio, quando todos esperavam um anúncio de uma nova geração o grande pulo do gato da Game Freak foi um remake para encerrar a geração atual.
Muitos torceram o nariz, muitos não entenderam que não era um Spin-off, muitos foram contra a ideia. E agora que, enfim, pudemos ver e experienciar os novos jogos da franquia está na hora de analisar Pokémon: Let’s Go, Pikachu! e Pokémon: Let’s Go, Eevee!
Introdução
Embora seus criadores não considerem o jogo um Remake, é evidente que este jogo se trata de um pseudo-remake, ou um “Remake-Plus” de Pokémon Yellow, lançado em 1998 para o Game Boy no Japão e em 1999 para o Game Boy Color no ocidente.
Quase como uma ironia do destino, tanto os originais quanto os novos jogos possuem premissas similares: trazer novos jogadores à franquia.
Enquanto Pokémon Yellow acrescentava elementos da série animada para atrair novos jogadores, Let’s Go busca esse objetivo também trazendo estes mesmos elementos, mas também reduzindo muitas arestas do que foi introduzido no decorrer desses 20 anos, investindo em uma experiência mais contida.
Elementos populares, como Mega Evolutions, o Pokémon seguindo e o Pokémon Amie/Refresh retornam para dar mais ênfase na relação entre os treinadores e os Pokémon.

Claro, além de tudo isso, também abraçaram elementos de Pokémon GO, para atrair a fatia do público que havia se desconectado da franquia, mas retomado contato após o Boom em 2016 com o App, novamente enfatizando a intenção do jogo de atingir vários sub-públicos dentro da franquia.
As batalhas com Pokémon Selvagem abrem caminho para apenas sua Captura, algo que até então era uma quebra de paradigmas na franquia. Decisões como esta e a ausência de outras mecânicas que adicionavam mais estratégia ao jogo deixaram parte dos fãs inquietos. Então é hora de falar sobre tudo o que foi tirado, adicionado e se o jogo ficou bom ou não.
Visuais
Apesar do que muitos criticaram, Let’s Go é um jogo muito bonito. Tem algum problema ou outro em algumas sombras no jogo, que parecem texturas com menor qualidade, mas mesmo assim o jogo em si adapta muito bem a região de Kanto para o cenário 3D, assim como OR/AS fez com Hoenn, seguindo até uma direção de arte bastante similar, mas com mais qualidade e resolução.
Além disso, boas adições ao jogo são pequenas cutscenes em momentos chave de interação entre personagens, como a finalização do arco de Lavender Town, na Pokémon Tower.

Isso e algumas adaptações de diálogos tornam a história de Kanto (que já possuia alguns furos) um pouco mais coerente do que os jogos originais tratavam. Aliás, várias referências a Gold/Silver e HeartGold/SoulSilver tornam a experiência mais interessante. Onde tá agora o pessoal que critica a ausência de referências a outros jogos?

Algo que eu não gostei, no entanto, foi a preguiça nas animações de batalha dos Pokémon. Sei que não é fácil fazer milhares de animações para todos eles, mas as movimentações que os Pokémon fazem ao dar golpes é basicamente a mesma do 3DS, alguma alternância entre 2 animações e saltinhos, etc.
As animações dos golpes em si estão muito bonitas, algo que a Game Freak sempre deu mais destaque, mas a dos Pokémon ficou um pouco abaixo da média, para um jogo de Console de Mesa.
Já a música, não tem muito o que falar. Está simplesmente fantástica. O trabalho do arranjo orquestrado feito por Shota Kageyama faz jus aos originais e ao excelente trabalho executado nos demais jogos, atualizando as músicas originais compostas pelo Masuda melhor do que foi feito em FireRed e LeafGreen. Não há nada o que falar de negativo sobre as músicas, os fãs antigos da franquia irão se deliciar de nostalgia e os novos poderão ter uma boa ótica sobre o sentimento que os primeiros jogos passavam. Na questão visual e de ambientação, todo mundo saiu ganhando.
Mecânicas
Não vou fazer um dossiê completo do jogo, quero tentar condensar as informações nesta análise, então não vou dissecar sobre todas as mudanças feitas em Kanto, quero focar nas mecânicas principais do jogo.
Primeiro, as capturas ao invés de batalhas. Algo que a princípio eu fui contra, hoje vejo com bons olhos. A mecânica em si é uma melhoria à de Pokémon GO com o uso do Joy-Con, ainda que em certos momentos o controle sofra dificuldade em identificar nossos movimentos.
No modo portátil, com os Joy-cons acoplados ao Switch, a captura fica ainda mais intuitiva com a mira sendo feita com a própria tela, enquanto as Poké Bolas são arremessadas no centro do display ao pressionar do botão A.
Ainda que meu saudosismo goste de batalhas selvagens, esse novo método de captura ajuda a agilizar o jogo conforme você melhora nos arremessos. Não digo que poderiam substituir as batalhas selvagens, mas elas poderiam muito bem coexistir como métodos alternativos. Uma pena que, neste jogo, não sejam duas opções.
Outra característica vinda do GO é a ausência de encontros aleatórios no mapa. Felizmente, essa é com certa vantagem a melhor introdução deste jogo. Visualizar e engajar encontros apenas com os Pokémon que você quer, ou mesmo fugir deles quando não queremos perder tempo tornam o jogo muito mais divertido e dinâmico do que Pokémon Yellow foi.
E se não for algo levado à Oitava Geração, será de fato uma perda muito grande.
Esta mecânica ajuda muito nas duas outras grandes mecânicas inseridas nos jogos, os Combos de captura e os Candies. Combos podem eventualmente aumentar o ganho de Experiência em batalha (e até aumenta chances de encontrar Pokémon com IVs melhores e até Shinies) e os Candies podem dar incrementos nos Stats dos seus Pokémon, também são recebidos através de Combos. Apesar de algumas pessoas acharem meio roubado poder aumentar os Stats, esse sistema de AVs (Awakening Values) substitui os EVs (Effort Values), mas num viés mais casual, simples para o jogador entender e utilizar. Vale ressaltar que esses valores de Candies são desativados nas batalhas online.
Além delas, obviamente a conectividade com o Pokémon GO é uma adição interessante. O modo 2 Players também cria novas possibilidades aos jogadores que possuem amigos, namorados, irmãos ou outras pessoas ao redor que queiram compartilhar da experiência. Claro que, quando batalhado contra um treinador, o oponente poderia usar 2 Pokémon em batalha para não ficar muito desleal, mas é algo que dá para relevar.
Porém, as mecânicas novas relevantes meio que acabam por aí. Apesar de boas adições, o jogo retira elementos conhecidos da franquia há mais de uma década como Held Items e Abilities. Ainda que eu ache que as habilidades não façam falta nenhuma nos jogos, os Held items poderiam estar presentes numa quantidade moderada. E, novamente, o ciclo de dia-noite foi retirado. Parece até um hábito da Game Freak.
Outro ponto negativo é o modo online do jogo. A exclusividade de Match Making com códigos, como os de Pokémon GO para as Reides, é algo extremamente absurdo considerando que este é o primeiro jogo de console de mesa de uma das maiores franquias Nintendo. A ausência de uma Friend List é indefensável.
Pra finalizar a lista de problemas com o jogo, temos o Mew exclusivo da PokéBall Plus, que é basicamente um Cash Grab, e o pós-game escasso.
Apesar dos Master Trainers serem uma boa ideia para aumentar a longevidade do jogo, ela não justifica investir tanto tempo pelo jogador casual, assim como uma Battle Tower, ou Battle Frontier da vida. Apesar de diversos eventos in-game (como Rematch de Líderes, Red, Blue e Green e alguns itens respawnando) sejam interessantes, nenhuma área nova é liberada além da Cerulean Cave.
Não é como se PRECISASSE ter uma área nova para o jogo ser bom. O jogo é excelente, porém ele poderia ser muito melhor, com apenas um pouquinho a mais.
Tem também todo o lance dos Iniciais serem roubadíssimos, com ataques especiais, IVs perfeitos e tudo mais. Muitos alegam que isso facilita o jogo, mas eu não vejo isso como um ponto negativo, uma vez que você não seja obrigado a usá-los na equipe.
Kanto agora pode ser desfrutada sem a necessidade de HM Slaves, com liberdade total para montar times. O jogo não pega tanto na sua mão como os demais jogos da Sétima Geração, eu mesmo precisei parar umas duas vezes para fazer um pouco de Grinding para não sofrer muito nos Ginásios. Mesmo com meu Pikachu Hyper Bolado.
Ao meu ver, este é um grande acerto de Let’s Go, ele permite que o jogador monte a sua própria jornada no seu tempo. Quer upar bastante e ter menos dificuldades? Toma aqui os Catch Bonus. Quer uma experiência mais difícil? Não saia capturando os Pokémon e lute só com os treinadores. Fugir dos selvagens é mais fácil do que nunca agora.
Conclusão
Pokémon: Let’s Go, Pikachu! e Pokémon: Let’s Go, Eevee! são experiências únicas. O jogo teve a ousadia de retirar elementos que me fizeram duvidar se eu gostaria dos jogos e, ainda assim, a Game Freak conseguiu me surpreender.
É estranho pensar que, mesmo após tanto tempo aqui, este jogo me fez repensar o que eu gosto na franquia. Há um bom tempo que eu não só me divertia jogando Pokémon, sem grandes propósitos. Pegando o videogame antes de dormir e andando pela região, interagindo com meu parceiro, capturando alguns Pokémon e ganhando algumas insígnias.
Toda essa simplicidade me fez entender mais dos motivos pelo qual eu comecei a jogar e continuo há tanto tempo na franquia. E eu sinto, honestamente, que a Game Freak também entendeu algumas coisas voltando às raízes. Às vezes menos é mais.
Talvez seja o meu lado nostálgico falando mais alto. Pokémon Red e Pokémon Yellow foram, afinal, meus primeiros jogos da franquia e retornar para Kanto agora no Nintendo Switch foi sim uma experiência inesquecível. O jogo, claro, não é perfeito e tem diversos problemas.
Seria muito melhor se pequenas coisas estivessem presentes (e não digo nem de espécies Pokémon, ou habilidades, etc..). Mas eu consigo apreciar o jogo do jeito que ele é, mesmo com essas falhas. E vou rejogá-lo muitas e muitas vezes.
Também compreendo que jogadores novatos, que não possuem esse mesmo apego pelos primeiros jogos, não terão a mesma experiência que eu. Tendo isso em mente, eu realmente acredito que o jogo não valha o full price vendido. Para iniciantes (e para os recém chegados do GO), será definitivamente um jogo divertido por alguns aspectos. Para os jogadores casuais intermediários, será divertido por outros. Para os competitivos, pode ser um frescor. Mas ele definitivamente ressoa mais com os fãs da primeira geração.
Agora nos resta ver se os jogos trouxeram alguma lição à Game Freak. O que pode ser aproveitado e o que será descartado no futuro. Nos resta esperar por 2019.

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